Os fariseus apareceram na história aproximadamente 100-150 aC e suas idéias e teorias atingiram seu ápice justamente na época de Jesus. Há, nos Evangelhos, diversas menções a eles e seus diálogos com Cristo. Para nós, eles servem como um referencial do que não fazer e do que não ser, no que diz respeito à vida cristã.
O principal significado para fariseu é separatista. De fato, foi essa a principal postura deles e isso ficou muito claro na descrição dos evangelhos. Eles eram extremamente centrados em si, fruto de uma religiosidade doentia e uma interpretação míope das escrituras. Só valorizam os que liam as suas cartilhas teológicas e moralistas. Os demais eram excluídos e discriminados por eles.
Tinham sede por reconhecimento e status. Assentavam-se nas primeiras posições nos banquetes e na sinagoga, usavam roupas diferenciadas para impressionar os “pecadores” com sua santidade. Davam esmolas a céu aberto e grandes ofertas no templo com o único desejo: serem percebidos como espiritualmente superiores1. Eles criaram um sistema abrangente e bem estruturado que lhes dava autoridade sobre todas as questões concernentes à Lei. Eles eram a religião na prática.
No entanto, a imagem que ficou deles é a da frieza espiritual e do legalismo. Eles marcaram a história por um erro tosco: eles não reconheceram o Messias2. A elite religiosa e detentora do conhecimento das escrituras tropeçaram na Pedra que ela tanto anunciava. Por quê? Porque estavam mergulhados em uma profissão que os impediam de enxergar a razão de todas as Escrituras; seguiam a letra e haviam perdido a essência da lei até então. Paulo se referia a isso ao afirmar que a letra mata e o Espírito vivifica3. Além disso, Jesus fez duras críticas ao modo deles de interpretar e praticar a lei4.
O farisaísmo não se findou, apenas se reformulou e se adaptou ao nosso tempo e às vezes dá sinais de que está vivo. Anula a Graça; estabelece rituais, levanta guias entre o povo, separa e compara pessoas; estabelece, também, formas e um sistema todo preparado para excluir e recriminar aqueles que não se encaixam ao seu método. Exatamente como na época de Jesus. E o pior: consideram-se exímios representantes de Deus na terra e que suas formas de vê-Lo são as únicas.
A divisão histórica da igreja brasileira deve-se, também, ao farisaísmo. Já cansei de ouvir e ver julgamentos nesse sentido. Igrejas julgando outras tendo como critério a observação da “doutrina”, o estilo de roupa, o estilo de louvor, a maneira de o pastor pregar, o lugar freqüentado por eles e suas ovelhas – cinema, praia, estádio de futebol, teatro –. A igreja não se une pelos seus dogmas, mas pelo seu Cabeça. Mas isso é uma outra história…
O que devemos ter em mente é se estamos ou não, em nosso mundinho religioso, caindo nesse sistema e cometendo os mesmos erros e ao fazê-lo, nos tornando opositores, perseguidores e inimigos de Cristo. A diferença que devemos ser no mundo não se percebe através de artefatos externos, de atitudes extremistas com o objetivo de ser melhor e diferente. Ela está em Cristo e ele sendo glorificado em nossas vidas.
O Evangelho nos apresenta valores diferentes do apresentado pelos fariseus do nosso tempo. O filho que retorna arrependido é recebido. A ovelha perdida que se arrepende vale mais do que noventa e nove que não precisam de arrependimento. O filho querido é o que, depois de negar um pedido, se arrepende e o cumpre. O que encontra justificação é o que reconhece sua miséria e clama por misericórdia, ao contrário do religioso que se apóia em sua autojustiça5. Uma vida rendida a Cristo, fruto de uma contrição gerada pela compreensão da nossa ruína, é o principio da vida cristã.
Entretanto, esse evangelho tem sido trocado por um que insiste em nos exaltar e proclamar nossa suficiência e independência. Jesus rejeitou essa profissão de fé e continuará a rejeitá-la aonde isso acontecer. E nossa geração está assumindo o risco de ser preterida. Preterida por adorar e seguir homens ao invés do Filho de Deus; por viver e pregar um evangelho anátema; por se afastar da Palavra e sustentar-se num misticismo barato; por trocar o invisível pelo visível; por desejar ser servido pelos reinos deste mundo.
O evangelho é para pecadores que reconhecem sua condição e confiam somente na graça para ter um relacionamento com Deus. Que proclamam as maravilhas do amor imerecido do Pai manifestado pelo Filho. Que querem, de fato, ser sal e luz. Destes nunca serão tiradas as boas novas e eles sempre darão seus frutos. Quer os religiosos reconheçam ou não.
Leia: [1] Mateus 23. [2] João 1:26. [3] 2 Co 3. [4] Mateus 15:6. [5] Lucas 18:9-14